Sobre a variedade de pensamentos que nascem do mundo físico e entram no fantástico através do meu olhar no leste europeu!

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Local: Recife, Manguetown, Pernambuco, Brazil

segunda-feira, outubro 25, 2004

Era uma vez, na Transilvânia...

E o dia raia sob uma névoa espessa com a passagem do intercity D347 das 23:00 (que me custou 12.000 forintes, ai) pela rota dos cárpatos, em direção à pequena cidade de Sighisoara. O sol escalava, mas era possível observar o seu definido disco no céu, e olhá-lo diretamente, apesar de alguns momentos alguma nuvem menos densa estar a sua frente e ele brilhar um pouco mais. Não era possível ver além de 10 metros de distância, e assim a transilvânia surgia em um clichê e tanto.
Mas o efeito era belíssimo. Em pleno outono, estava eu observando aquelas cenas clássicas de filmes de terror, seriam como que sinistras, apavorantes, onde a qualquer instante apareceria algum ser das trevas pronto para pular em seu pescoço!

THRILLEEEERRRRRRR THRILER NIIIGHTTTT

Mas a energia que o local passava era completamente outra.

O doce olhar do povo romeno e a língua que mesclava o sotaque italiano com o português por si já entregava o sentimento de segurança e hospitalidade. Ao ser inquisitado pelo passaporte, entreguei e o guarda da imigração olhou duas vezes, "brasilia", sendo a segunda após o susto, e com muito mais detalhe. Mas eu estava todo certo na história e meu visto fez efeito. Eu tinha acabado de sair da comunidade européia, mas a recepção foi calorosa e justa.
Sem dúvida, ali residia a fonte da "calma" que me foi transmitida pela região do leste europeu. Eu me sentia de férias finalmente, e no meio de pessoas que poderia até chamar de "primos", pela proximidade de espírito.

Sentimentos horripilantes por estar na Transilvânia?
Que nada! Aquelas brumas eram de Avalon ou algo mítico semelhante! Era quase visível no clima do lugar.

O trem continuava a percorrer os últimos trechos até Sighisoara, e ao amanhecer a névoa se dissipava "abrindo as cortinas para um dos países mais fantásticos que eu já visitei" (eita frase melosa!).

Me receberam na estação e me levaram para o "Nathan's Villa", albergue o qual eu tinha reservado. Um cara que associava Brasil a "tchutchuca". Putzgrila! Como isso chegou na Romênia!? Sangue de Cristo tem poder.

Parece uma maravilha, lavar roupa lá era de graça, então toma um saco tia, o filho é teu! E eu saí para conhecer a cidade. É um local protegido pela UNESCO, e mais bela preservada citadela medieval do mundo (assim eles dizem). E eu vi... a casa onde Drácula nasceu! Virou um restaurante. A pessoa paga pouco e vai para alguns museuzinhos que são pequenos, mas significativos. A torre do relógio (clock tower) é na verdade um museu de ciência medieval, e também moderna, quando faz menção a um romeno que supostamente teria inventado o foguete espacial junto com Von Braun (considerando nosso caso com Santos Dumont, pode ser bem verdade). Legal também é o museu de torturas, e de armas medievais, com cada pexeira poderosa. Ir para a Transilvânia é na verdade um retorno ao tempo medieval. Não se encontra no mundo local mais preservado sobre esta época da história na Europa. As florestas são muito bem conservadas também, em função talvez da pouca industrialização durante o governo socialista, que focalizava principalmente na exportação de alimentos para a URSS.

Ao voltar conheci um casal jovem de viajantes franco-canadenses, do Québec. A garota era Eve, e o menino eram, bem, PHILLIP.
Eu sou o bem aventurado! Recebo piadinhas prontas durante minha viagem!
Aí fomos para o porão do albergue, que tinha uma mesa de sinuca massa e ficamos escutando música, eu, Phillip, Eve, e dois dos atendentes do albergue. Um deles deu aula de como jogar gamão a Phillip, e eu tava achando aquilo meio pra baixo, quando bateu o sono e eu subi para dormir. Inventei de tomar um copo d'água na cozinha, e quem eu encontro? Dois caras comendo uma pizza véia, era o inglês e o francês.

- Mas como um francês e um inglês são amigos desse jeito?
- Somos da paz agora! Nada de guerra dos 100 anos nem piadinhas infames! Só sobra agora rixa de futebol.
Disse o inglês, abraçando o colega da França.

Os caras realmente eram muita onda. Fiquei conversando com eles até tarde, e depois descemos para jogar sinuca e tomar uma! A noite adentrou, tocamos violão, conversamos sobre Monty Python, e só de 3:30 é que eu fui dormir!

É bons tempos em Sighisoara, terra natal do "conde" Drácula, onde eu me senti de férias!