Sobre a variedade de pensamentos que nascem do mundo físico e entram no fantástico através do meu olhar no leste europeu!

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Local: Recife, Manguetown, Pernambuco, Brazil

segunda-feira, abril 21, 2008

Green Lands of Fairies and Hills - A Mitologia Histórica da Irlanda

Antes é claro de partir para essas terras de grama, eu coloquei as mãos em um livro para estudar a mitologia Celta, e compreender um pouco mais do ambiente onde estava pisando. Mal sabia eu que estava prestes a cair dentro de um mundo muito mais incrível que o fantástico mundo da Terra Média do Senhor dos Anéis.


Ao começar a ler as histórias não conseguia mais distinguir realidade de mito, história celta de cristã - lugar lendário ou histórico. Neste país, tudo forma uma mistura homogênea, indissociável, e muitos poucos habitantes conhecem e se interessam por esses contos de fada vivos. Esta eu em Avalon? A mítica ilha nublada da eterna primavera a Oeste do país de Gales onde mora o Rei Arthur? Onde começar? da formação geológica da ilha? da formação segundo as lendas? das primeiras ocupações humanas? dos principais ambientes encontrados? complicado. Bem vamos começar do fantástico:

Segundo os antigos manuscritos irlandeses no início tínhamos o o "Povo da deusa Danu" ou Tuatha dé Danann, deuses das benesses do homem, e os deuses de Domnu, escuridão, ou "Fomors", associados com a profundeza dos oceanos, a neblina, a doença, etc. Os Fomors eram tidos como os mais antigos deuses, destinados a serem destronados ao fim. Destes deuses, a maioria eram gigantes e deformados, como Balor, um ciclope com olhar venenoso, ou Morrigú (Morrigan), a encarnação da morte e do mal no campo de batalha. Mas outros eram a mais pura beleza, como Elathan, um príncipe da escuridão, e o seu filho Bress, que virou sinônimo do que é bonito na Irlanda. Da galera de Danu, tínhamos deuses mais heróicos, como o Rei Nuada mão-de-prata (Taranis), ou o Dagda, o deus bom, grande comedor de papa, que possuía um caldeirão que nunca esvaziava. Lugh, o belo, que tinha uma lança que sempre voltava ao dono e que nunca errava o alvo. E a própria espada de Nuada, praticamente uma espada justiceira, se é que vocês me entendem.



Um Fomor


Alguns deuses de Danu


Os primeiros habitantes segundo os mitos foram a raça de Partholon que chegaram na Irlanda com 24 homens e 24 mulheres no primeiro de Maio (tudo acontece lá nesse primeiro de maio...), e após 300 anos de morada, aumentaram de uma para quatro o número de planícies da Irlanda, de dois para sete lagos, e sua população para mais de 5000 pessoas. Esse povo vivia em constante batalha com os Fomors, sendo eventualmente derrotados por uma epidemia, em primeiro de maio, na qual os últimos sobreviventes enterraram seus entes queridos na primeira planície que chegaram, este local hoje conhecido como um bairro de Dublin, Tallaght, e que significa "Túmulo-praga do povo de Partholon". Os próximos colonizadores, chegaram segundo as lendas da Espanha ou Grécia, conhecidos como eufemismo pós-cristão para o Hades Celta, e eram os morenos "Fir Bolgs", relacionados com os Fomors, de tamanho e capacidades sobre-humanas.

A ligação histórica se torna bem clara quando em seguida vemos a chegada do Tuatha dé Danann à ilha irlandesa, indo combater com os Fir Bolgs pela supremacia da ilha. Da mesma forma a arqueologia mostra que os primeiros habitantes da ilha foram povos ibéricos neolíticos, alcançando notavelmente a costa irlandesa pela corrente do golfo, sendo despojados pelos celtas da era do bronze. A turma da Mônica ops, quer dizer, deusa Danu chegou envolta em uma neblina na ilha no dia, adivinha, primeiro de maio, vindos de suas 4 cidades, Findias, Murias, Gorias e Falias. Destas cidades eles trouxeram o caldeirão do Dagda, a lança de Lugh, a espada de Nuada e a "Pedra do Destino", que futuramente caiu nas mãos dos reis irlandeses. Dizia-se que quando tocada pelo próximo rei da Irlanda, ela soltava um grito. Hoje dizem que a pedra se encontra no morro de Tara, tida como o antigo "camelot" irlandês, é a do destino.


"...mas no dia em que a poesia se arrebenta, é que as pedras vão cantar..."


Eventualmente, os Fir Bolgs e os Danus se encontraram em uma épica batalha, composta de combates um-a-um, como na Ilíada. Em um destes combates, Nuada perdeu sua mão em um ataque de Eochaid, rei dos Fir Bolgs, que eventualmente foi derrotado após ser perseguido até Ballysadare, onde um túmulo marca o local de sua morte. Finalmente, reduzidos a 300 homens, os Fir Bolgs se renderam. Os Danus ao invés de matá-los no entanto ofereceram-lhes um quinto da ilha onde eles pudessem prosperar, Connaught, onde até o século XVII ainda se rastreava esta descendência. Esta história possui definitivamente um ar histórico, e vários artefatos e túmulos foram encontrados na planície de Moytura, onde se acredita que essa batalha tenha acontecido. Vários relatos e manuscritos interpretaram essa batalha, provavelmente entre os celtas gaélicos e seus antecessores ibéricos, como sendo a batalha de seus deuses, os Danus e os Fomors.


Balor montado num veado... hum...



Tuatha dé Mal



Vai Lugh, acaba com eles!

O lugar tá lá! Moytura



E então a turma da deusa Danu (como uma deusaaa....) tomou posse da ilha e fez seu grande palácio no morro de Tara, próximo ao rio Boyne, cujo local seria habitado continuamente por todos os reis gaélicos de aí em diante. Hoje é um local muito interessante para se visitar, apesar de não ter absolutamente nada, a não ser uma igreja, uma estátua de St. Patrick, e muitas ovelhas. Ah, e é claro, a suposta "Pedra do Destino" está lá para ser tocada. O morro de Tara está correndo o risco de ser demolido por uma rodovia a ser construída na região.


"I fell in to a burning hill of Tara..."



Voltando à história, era o rei de Tara o grande Nuada, agora com sua mão de prata para substituir a que foi cortada por Eochaid na batalha de Moytura. Estavam se preparando para a próxima batalha contra os Fomors. É neste momento que aparece Lugh no palácio, vestindo humildemente e oferencendo seus serviços. Quando disse que era um capinteiro, ferreiro, guerreiro, harpista, poeta, médico, entre outras coisas, o rejeitaram porque já tinham pessoas para cada uma dessas profissões. Mas Lugh argumentou que só ele sabia fazer todas essas coisas ao mesmo tempo. Testado pelo rei, em uma partida de xadrez onde inventou uma nova jogada que recebeu o seu nome, Lugh recebeu a "cadeira do sábio". Ficou a cargo dele preparar para a batalha, na qual cada deus ofereceu seu melhor. Após a grande guerra, Morrigú e sua vassala Badb, "a fúria", profetizaram o fim da era divina, e o início de outra, onde os verões seriam sem flores, vacas sem leite, mulheres sem vergonha, homens sem força, velhos fariam maus julgamentos e legisladores criariam leis falsas, e enfim toda a virtude seria deposta do mundo.

Os eventos que se seguiram são únicos na história da mitologia, a conquista dos deuses pelos mortais. Estes vindo do mundo dos mortos, "Hades celta", eram os Milesianos, que com batalhas usando encantações mágicas conseguiram de fato derrotar o povo de Danu, que foi ao exílio, começando a era histórica da Irlanda. Eles foram para as terras da eterna primavera ao Sul e oeste, onde nunca faltava comida, e todos eram jovens e felizes. Este local tinha vários nomes, entre os quais "ilha de Breasal" ou "Hy-Breasail", que muitos historiadores associam com o Brasil. Alguns deuses no entanto resolveram ficar, e se estabeleceram em grandes montes mágicos chamados sídh, designados por Nuada para cada um desses deuses. Para si, Nuada escolheu o maior de todos os Sídh, encontrado em Brugh-na-Boyne, perto do rio Boyne, hoje um dos sítios arqueológicos mais visitados da Irlanda, Newgrange. É um monte circular gigante, construído por povos megalíticos antes mesmo das pirâmides do Egito, cuja interpretação dos povos celtas, ao ver aquela grande estrutura pronta só poderia ser obra dos deuses. Era provavelmente um túmulo de passagem, e está alinhado precisamente com o solstício de inverno, em cuja ocasião ainda se pode observar a luz entrando pela porta do túmulo e atingindo a pedra angular.


Newgrange - a suíte presidencial





Olha o meu KIT-NET aí!

Hoje, os deuses são conhecidos pelos camponeses como AES SIDH, ou povo dos sidh. Um homem do sidh é o Fer Sidh, e uma mulher é Bean-Sidh, anglicizada para BANSHEE, uma das figuras folclóricas mais celebradas da irlanda.

quinta-feira, fevereiro 07, 2008

Terras Verdes da Cultura e Cerveja - Uma nova viagem, a IRLANDA


Exclamação da Acta Zooropeica, viajar é preciso, portanto de volta a essas terras tão pisadas pelo ser humano, milimetricamente construídas. É, não conheço lugar onde o ser humano tenha pulado, rodado e gritado mais...

E falando nisso, acabei por ir pra justamente a última fronteira do pé humano, aquela última ilhazinha do oeste, quando as pessoas vinham de muito longe do leste. É engraçado notar que mesmo com esse atraso todo, a Irlanda acabou por receber de braços abertos povos megalíticos e a idade do ferro, enquanto que nós brasileiros ficamos na pedra (ainda bem!). Mas tudo lá chegava por último, e alguns não puseram as sandálias lá, como os romanos. Mas os celtas sim, e logo depois, a religião católica, que realizou um notável sincretismo religioso, profundamente arreigado com a cultura local. Depois vinheram os (malditos) ingleses! E esta foi a história da Irlanda (por enquanto!)




Quo Vadis Hibernia?


Só no liseu: RYAN AIR! Barra de cereal é luxo, meu véi.


Terra à vista: Howth head, primeira vista da baía de Dublin. Em breve imagens em escala 1:1 deste local!!!


Assim que o avião atravessou o mar entre a Inglaterra e a Irlanda, começaram os clichês a tomarem forma, e não foram poucos. O lugar é realmente verde, chovento, cheio de penhascos, ovelhas, e lá a turma é chegada mesmo numa cachaça, eita menino! O avião da Ryanair chegou pela península de howth e adentrou Dublin, passando por cima de um campo de Rugby, e surgiu diante de mim aquela visão do céu branco e cinza, com o verde profundo da grama. Hora de tomar cerveja! Pensei, mas ainda não. Quando se chega de um destino fora da união européia, é normal passar pela imigracão, mostrar passaporte, dizer (ou mentir) que se vai fazer turismo, blah blah... Mas uma vez dentro do bloco econômico, é como estar no mesmo país. Apesar de ter voado a partir da França, me deparei com a imigração diante de mim. Até então tudo bem, mas aquele irlandês queria me pegar. Principalmente porque quando perguntou quanto dinheiro eu tinha, falei que só 200 euros. Pra passar um mês. Claro, era o que eu tinha no bolso, mas ele também não aceitou quando falei que o dinheiro estava em sua grande parte em cartões de crédito. Enfim a solução foi encontrada por mim e minha namorada Ellen, se ele quisesse mais dim dim, a gente ia num caixa ali mesmo na sala de embarque e tirava pra ele...

- Tudo bem, mas você não vai poder estender sua estadia, e se for pego trabalhando, vc será deportado, ela (apontou pra Ellen) será deportanda, e todo mundo dessa fila será deportado!

- frescura po!


Prova que eu consegui entrar na ilha, é só clichê!


Enfim adentrei a cidade, e logo de cara me espantei com uma propaganda que parecia óbvia para quem morava lá, mas que eu só vim entender muito depois, em uma viagem pela cultura irlandesa. Era uma série de outdoors:



Complicado... o que a Guinness está querendo nos dizer?

sexta-feira, janeiro 06, 2006

Minha Terra tem Mármore onde canta a Coruja da Deusa! (Um passeio rápido por Atenas)

Desde pequeno eu sempre tive certeza... Fui grego em outra encarnação! Nada de exaltação ou de detrimento gay (como diriam os turcos), mas é intuição masculina mesmo (ou deve ser!). O lugar é muito natural para mim.

Com o trem saindo da cidade bizantina e passando pelos portões de pedra, me senti acomodado novamente em um vagão impossível de pagar na europa normal... pena (ou ainda bem) que sozinho. Mas pena que sem ninguém eu estava pois ainda iria me encontrar com a garota de Komotini, e à noite após 24 horas cheguei lá pra saber que ela não estava. Lá se foi minha moussaka em terras gregas! Bom, nem tudo foi mal, pelo menos os policiais que me revistaram à força em uma parada no meio da noite e no meio do nada eram realmente policiais!

De 22:00 saiu o trem diretamente para Atenas, a cidade maravilhosa (do mundo antigo). Tranquilíssima a viagem, se bem que eu estava acostumado. E às 6:30 chegando na estação, fui direto para a Acrópole, sendo literalmente o primeiro a subir lá naquele dia.

Ao chegar no alto daquele morro da história, observando cada detalhe, notei que o lugar ainda está vivo - é um sítio arqueológico em pleno trabalho, e peças de mármore de milhares de anos cobrem o chão (o chão é literalmente "coberto de história"). Andaimes sustentam grandes colunas de rocha, e vários arqueólogos trabalham incessamente com os restos dos investimentos da última Olimpíada. As carótides pairam sublimamente no canto esquerdo, ainda com ódio das duas irmãs que foram raptadas para as ilhas britânicas. O Partenon ainda se sustenta apesar do cruel ataque otomano. E dentro dele se podia escutar lá ao longe uma voz feminina fraquejando "Shiriyuuu.... Shiriyuu...". Fora isso, é claro, eu me mantinha a assoviar minha trilha sonora grega que ia de Zorba a Sonic.

Os teatros ao redor também eram espetaculares. A acústica realmente é boa! Viva o empirismo científico - quem precisa de Newton? Um museu no final do morro contem as peças mais importantes que restam das fachadas. É preciso um pouco de criatividade para recriar mentalmente como elas se pareciam (é uma diversão, sem dúvida!).

Finalmente descendo da acrópole, visitei um grande espaço chamado antigamente de "ágora antiga". É o antigo mercado de uma cidade portuária, e ficava ao pé de um dos templos mais preservados, o de Hefesto, auqele que pelo seu trabalho, mesmo feioso ganhou Afrodite. Tá vendo? O negócio é ser ferreiro...

Um museu ao lado mostra como os gregos votavam, o sistema de "ostracismus", com pequenas rodelas de cêramica onde colocavam o nome de cada candidato. Muito interessante, considerando como é antigo o sistema democrático e como ele não mudou muita coisa (as pessoas ainda conseguem errar o nome do candidato até em urnas eletrônicas).

Mas logo à frente estava a feira de verdade. Essa muito parecida com qualquer feira na cidade de Recife, só que tem kebabs em vez de cocos. Eu disse Kebabs? Pois é, a influência turca tá aí, apesar da destruição de todas as mesquitas de Atenas. Danou-se, e eu achava que era rixa aquilo entre Pernambuco e Bahia...

Depois de umas comprinhas básicas (camisa da Grécia, cerveja e refrigerante) é hora de... VOLTAR PARA CASA! Pois é amigos, meu vôo estava marcado para as 17:00. Depois de 40 dias viajando, era hora de retornar ao Brasil. Não como Marco Polo, para qual o retorno era uma outra viagem, no meu caso era tudo automatizado, graças ao moderno sistema de transporte a jato. Saindo do mercado, me lembro de todos os passos da volta, recordando dos bons momentos, e maus tb. Despachei a grande mochila laranja, e sentei no avião da lufthansa, dormindo e acordando em pleno vôo... passei a decolagem dormindo, para você ver. Uma conexão em Frankfurt, e depois...

Bem vindo senhor, ao vôo da Varig. Era em português que a doida do check in me falava. Nunca mais tinha escutado essa língua legal (Desde o tchau que eu tinha dado para a Geise em Veneza). Comi um sanduíche básico, e fui-me para Recife.

De cima, a minha chegada no Rio de manhã, minha alma cantou eu vi o Rio de janeiro.

De cima, a chegada no fim da tarde a Pernambuco, a vista dos canaviais ao pôr-do-sol, e os fragmentos de mata atlântica. Ainda acho linda a cana tanto de cima ou de baixo, de qualquer lugar que eu for quando eu chego é sempre uma alegria - não existe campo mais bonito, nem pôr do sol melhor aos "dedos róseos do anoitecer" como diria o filme "Além da linha vermelha", na ilha de Guadacanal. Cheguei Recife!

terça-feira, abril 19, 2005

Istambulindo na Aya Sófia. "Santa Sabedoria, Batman!" Disse o César ao Sultão.

Raia, sol do leste!
Porque veio mais um pra conquistar essa terra de altas muralhas onde cantam os árabes.
E pra tomar café no alto do albergue, cubos de açúcar! Fazia tempo que eu não via destes. Ares quase marítimos do estreito que separa a europa da Ásia. Nem acreditava que tinha realmente conseguido chegar até ali. Foi uma luta pessoal, realmente, um mês inteiro tentando, e finalmente estava lá, no ponto mais oriental que eu já fui, na Roma do leste. Cada um para seu lado, e lá vou eu passear logo por onde eu mais queria ir nessa cidade incrível: O templo da Hagia Sofia.
E chego eu perto de um monte de ônibus de turismo e véi. Paguei a entrada mais cara de um museu na minha vida, mas lá fui eu! Essa construçãozinha, que já foi igreja, sinagoga, mesquita, e agora é um museu, foi construída com um problema arquitetônico nas costas: Um domo sobre uma base quadrada. Mas Constantino pediu, então... :P Chamaram os mais sábios ilhéus gregos e eles colocaram o "duomo" em arcos sucessivos. Dizem que a igreja é indestrutível, após vários terremotos em que ela bravamente sobreviveu, em parte também graças à adição de vários minaretes de apoio após a queda de "Constatinopla". O interior é impressionante, mesmo em reforma. O domo parece flutuar embaixo de uma camada de luz. Existe inúmeras referências a todas as religiões que tiveram o lugar como sede, até pichações vikings se encontram por lá. Um círculo metálico existe, onde pessoas giram o polegar e fazem um pedido. A subida para o segundo andar é feita por um corredor estreito muito antigo, e impressionantemente não cansa.
Saindo de lá, tentei visitar o palácio do Sultão, o Topkapi, mas o preço era abusivo demais. Fui então para o "grande bazaar" fazer compras, onde vi a real graça daquele lugar, os vendedores árabes são os mais divertidos! pechinchar é uma arte das mais interessantes! principalmente quando vc consegue baixar 5x o preço do produto (comprei uma camisa por 5 milhões de liras turcas, que me ofereceram por 20.) Na verdade dei 5.500 por que o cara era gente fina. É a forma mais divertida de comprar, acredite em mim. Assim acabei gastando um bocado!
Pois é, cheguei a tempo de jantar com a galera, Ramadã né, o sol desceu e a gente começou a comer. Tinha umas alemãs gatas por lá!
Mas obviamente não comemos elas (óbvio por quê? Santa Sabedoria! Hagia Sofia, Amigo, Haja Coração!) Neh dessa vez naum, falei das alemãs graças a um lance engraçado - Elas ficaram iradas graças ao comportamento supostamente machista do garçom, que serviu a sopa pros homens primeiro! Pra uma delas não chorar, dei a minha. A essa altura já tinha conhecido o pai e filho americanos que se tornariam muito meus amigos nas aventuras árabes - Louis (o pai) e Dante (o filho). Dante tava até afim de uma das alemãs ali, mas eu acho que era só gréia... como era minha louca paixão pela grega de dois posts anteriores, apesar deu ter ligado pra ela e comprado um par de sapatos turcos... besteira! :P Mas foi ali que eu conheci Bob pai e Bob filho. O pai foi morar uns tempos em Istambul para ensinar inglês, para ter uma experiência em outro país, e o filho estava fazendo intercâmbio na Alemanha, e veio visitar. Bom...
Outro lance engraçado foi que eu entreguei uma nota de 5.000.000 de liras turcas achando que era uma de 50.000.000 de liras turcas! (e ainda peguei o troco da galera!). Queimo os brasileiros sempre...!
No dia seguinte, me apareceu na cara uma oportunidade de ouro! Quando chego no teto do albergue pra tomar café, Louis me chama para passear com os alunos turcos dele! Oportunidades de ouro caem no colo se você sabe fazer amigos...

E adentrando num Doblô (eu acho que era), fomos nós passear pelas ruas de Istambul.

Enquanto ISHAN nos contava histórias e mais histórias sobre os milênios de ocupação da segunda Roma, eu perturbava (como sempre)
Um dos doidos lá tinha um dente de ouro, quis obviamente dar uma de turco e penchinchei pra comprar dele (quase consigo!).

Entramos em um bocado de Mesquitas. Interessante notar que, a imponência e integridade da estrutura eram preocupacões constantes dos arquitetos reais do Sultão. Desde que o Monsieur Ahmet (SultanAhmet) adentrou na Santa Sofia e exclamou "Virge Maria da Santíssima Trindade de ALLAH!" jogando um punhado de terra na própria cabeça em sinal de rebaixamento frente a uma obra tão suntuosa, todas as mesquitas (do mundo, eu diria) seguem mais ou menos esse modelo. O domo obviamente redondo com suas janelas de sustentação em cima de uma base quadrada. A mesquita Azul (blue mosque) é maior do que a Hagia Sofia e foi construida logo na frente (para fazer "frente"). Os "minaretes" (colunas de chamar para oração) serviam também para contrabalancear o peso da estrutura, funcionam como gigantes fundações externas. Pequenas colunas na parede interna da mesquita rotacionam, indicando as menores forças de estresse na estrutura, indicando a necessidade de intervenções. Coisas de 1500-1600. A parte interna vcs todos conhecem... separação mulher-homem, cânticos diversos, tirar sapato para entrar (dessa eu me cansei bastante!), fontes d'água para lavar mãos e pés para se purificar antes de entrar no templo... os árabes são realmente muito limpos (coitado de mim, Miles mandava eu deixar os meus sapatos de trilha lindos do lado de fora do quarto todo dia pq eles fediam tanto!). Um dos pontos altos do dia foi a ida a uma antiga igreja da época de constantino... tinham transformado ela em mesquita, como tantas outras, mas esta estava fechada para visitação. Como um de nossos colegas estudava história da arte pode trazer a gente pra dentro. Quando lá, para minha surpresa nosso anfitrião lavanta o tapete e o piso de madeira do templo muçulmano e para nosso espanto, um mosaico enorme da vida de Cristo embaixo do piso.
Continuamos indo para vários túmulos de Sultões. Lugares de reza extremamente visitados ainda, enormes caixões com um turbante em cima.
(E nada de comer o dia todo!!! Ahh!!! RAMADAN!)
Em seguida visitamos os muros da cidade. impressionantes pelo seu tamanho, muitos locais se tem que escalar, mas a vista não tem igual. Embaixo de uma muralha, catacumbas onde o Sultão lançava seus prisioneiros!!! Cara, nunca me senti tanto o personagem de PRINCE OF PERSIA. A semelhança é realmente gritante.
Depois, rodando pelo bairro muçulmano da cidade, Ishan me advertiu que dar tchauzinho para as mulheres ali era o mesmo que pedir em casamento (eu parei né!). E quando deu a hora mágica: "quando batem as seis horas/de joelhos sobre o chão/o muçulmano reza/e come café, e kebab com pão" De fato, fomos comer como o resto da cidade, e meu papai americano me pagou os baklavas, kebabs, e outras comidas das mais gostosas possíveis.

Quando fui na cidade constantina
Fui tratado como um Sultão
Café na cobertura
Olhando pro estreito do chifrão
Delícia turca maravilha
E pistache de graça
Me deram kebab para provar
eu provei
Suco de granada com laranja pra tomar
eu tomei
chá de maça pra beber
Ah minino como eu gostei!


E a triste despedida da noite, pq eu iria para a Grécia no dia seguinte! Quel dommage! Bem, a viagem não pode parar.

domingo, abril 03, 2005

Allah colocou a mão. ISTAMBUL, Enter the Desert Sandman!

E raia o dia na Trácia!!!
O sol de Apolo surge no horizonte carregado pelos cavalos que respiram fogo. Perseu se casando com Andrômeda, esfinges ao redor me tentando, para que eu finalmente descobrisse alguma coisa sobre aquelas letrinhas gregas. Era a terra do fantástico, dos mitos quase inacreditáveis. E eu, tudo isso acreditava. Só que, obviamente não me dava conta que finalmente conseguira entrar na rota para finalmente chegar à cidade prometida de Istambul. Aqueles trilhos obviamente teriam sido percorridos pelos famosos vagões do Expresso do Oriente, eu estava perto!
Precisamente às 11 horas chega o trenzão, um dos muitos que eu percorreria neste dia, Afinal, são 24 horas de Atenas a Istambul, por esse esquema que eu segui.
Um breve P.S. para navegantes de primeira (ou muita) viagem: Antes de viajar estava eu procurando saber sobre vistos para a Turquia. O cara da embaixada, me tratando muito bem chegou dizendo que os vistos eram adquiridos In Loco, ou seja, ou eu desembarcava no local, ou voando, ou de trem, eu comprava por lá. É uma prática rara, mas ainda assim ocorre. Minha preocupação passou a ser portanto como chegar lá na Turquia, afinal, no meio do caminho tinha um país de língua cirílica, tinha um país de língua cirílica no meio do caminho - a BULGÁRIA. Ah vistos condenados! Ah que eu tinha que arrumar um visto de trânsito, pq não ia dar tempo de conhecer o lindo país (é eu queria visitar essa gota.). Turma, eu tentei até chegar lá de navio pelo mar negro, pense que seria "a" viagem. Lavando porão por causa do liseu. Mas o serviço de ferry Constanta (Terra de ovídio, autor do "Arte de Amar"), Romênia, para Istambul, Turquia estava desativado. Então era o jeito partir para um trecho de avião que minha querida mãe foi obrigada a escolher. Mas eu queria ir de trem. Em busca de um visto para a Bulgária, descobri, ó, que brasileiro não precisa de visto para entrar na Turquia! (que coisa!) Ao contrário de americanos, australianos, povos que normalmente não pegam visto nem em país comunista hoje em dia. Achei legal. Isso obviamente eu sentiria na pele ao chegar na fronteira. Gostaram do "breve" P.S.??? hahahah!).
Pois é. Eu apenas com traveller's checks (tinha gasto tudo tomando uma cerva com a grega no vagão), fazendo o trajeto até a fronteira, na cidade grega de PÍTION (a cobra do início dos tempos, morta por Apollo). Eu desço para esperar o próximo trem da jornada e acabo conhecendo Nick e Miles. Nick (que é da Cingapura) tinha uns 35 anos mas nem parecia, estava rodando o leste europeu, conhecendo as várias "fácies" dos povos locais. Se sentiu especialmente tocado pela hospitalidade do povo local da bósnia, que abrigam em suas próprias casas os viajantes (claro que não de graça né?!). Miles é astrofísico e estava escrevendo um livro sobre biologia, genes e universo. Ficou especialmente interessado que eu fazia ciencias ambientais! Tanto como eu pela área dele. Aquela pausa no meio do nada, que me fez sentir um exilado de filme (muito legal!) também serviria para análise de passaportes. Meu visto, obviamente era a minha nacionalidade. Mas e será que os guardas sabiam? Era esperar para ver. Eu estava sem dinheiro em espécie, de toda forma seria mandado de volta... a não ser que meus novos amigos me dessem um trocado! :P
Mas não foi preciso. Ficamos em o que pela classificação dos trens era a mais luxuosa das cabines, apesar do trem ser rabugento, era uma COUCHETTE, com lugar para dormir (teríamos ainda umas boas 6 horas de viagem pela frente). Mas nem foi preciso cair no ronco, por causa da conversa tão interessante.
Nos nossos aposentos bem merecidos para uma entrada triunfal em Instambul (e que entrada!) totalmente ao estilo do "Expresso do Oriente" trocávamos experiências. As conversas variavam de, cosmologia, origem da vida, múltiplos universos, funcionamento do DNA, e experiências nos diversos países dos bálcãs, contados por NICK, o rapaz que relatou momentos felizes ao lado de uma família serva. Já Miles me contou que os universos expandiam e contraiam como bolhas, e apenas os que tivessem variáveis "plausíveis" se manteriam por um tempo mais prolongado.
Enquanto o bate-papo se extendia, a noite adentrava, e nós, cada vez mais num dos territórios mais catucados por homens na história mundial. O trem finalmente entrou em uma cidade que não parecia ter fim. Neste momento, como se fôssemos celebridades, fogos de artifício irromperam nos céus por onde passavam minaretes e muros pela janela do trem. Era o primeiro dia do Ramadã, num momento que seria conhecido como uma das maiores coincidências da minha vida (não disse que seria uma entrada triunfal?).
Felizes e famintos pra caramba, saímos do trem estacionado às 21:00 na estação Sirkeci. Nos meus bolsos, só tinha traveller's cheques, estando sem um mísero centavo de euro no bolso, muito menos LIRAS TURCAS, procurei uma casa de câmbio, sem sucesso, àquela hora da noite. Olhei na saída da estação, um caixa automático 24 horas. Meus dois colegas iriam tirar dinheiro ali. Eu, olhei para o meu velho cartão OUROCARD, BANCO DO BRASIL e pensei, "ah, não custa nada tentar". Ao inserir o cartão, muitas palavras estranhas e uma opção compreensível "English". Ao se tornar tudo claro, mandei sacar do "cartão de crédito" e apareceram algumas opções, igualmente estranhas: "10 milhões de liras turcas", "20 milhões de liras turcas", "30 milhões de liras turcas", "50 milhões de liras turcas". Soube logo que não seria excomungado do banco por tirar muito dinheiro, mas os colegas não sabiam quanto aquele dinheiro significava. Resolvi tirar "20 milhões", e pelo menos deu pra pegar o bonde (por sinal o mais moderno que eu andei em toda a minha viagem) em direção ao centro histórico onde se encontravam todos os albergues.
Ficamos rodando um pouco perdidos, eu, Nick e Miles, no meio de muita gente nas ruas durante o Ramadã, mas logo encontramos algumas ruas que davam para um amontodado de albergues. Agora, eu queria ir para o que eu tinha reservado, mas não fazia questão de ir para outro, afinal, estávamos cansados e com fome. No entanto, enchi um pouco o saco dos caras, que ao virem primeiro os outros mais TCHANS quase desistem de procurar mais. O que provou ser bastante proveitoso! O BAUHAUS era simplesmente fenomenal, pelo menos em termo de estética e atendimento, e tinha um lounge fantástico no topo ao ar livre de onde se podia ter uma vista panorâmica do estreito de Bósforo... a amiguinha Bia tinha me dado a dica legal.
Os caras gostaram (depois me agradeceram) e deixamos as bolsas por lá, correndo para um restaurante, coisa barata, era Turquia, e vi logo que iria comer muito bem por ali! Primeiro chá de maçã, como vou esquecer? Simpatizei com o garçon, com o qual perturbei com a cara, comi um Kebab com pão do bom, depois fomos dormir, à luz da lua crescente e ao som das rezas do Ramadã...

domingo, janeiro 16, 2005

Letrinhas matemáticas, conversas incríveis e mulheres desconcertantes

Mais um post sobre a incrível resiliência do menino. Em viagens, descobri que sou a barata, aguento até inverno nuclear (calma, é só porque tenho essa capacidade de passar dois dias sem dormir... várias vezes!)
E dessa vez foi até melhorzinho, como em seguida irei contar.
Como aquele puxa saco eu sendo algum chefe multimilionário, a Romênia não desistia de me bajular apesar da minha partida do país!
Do meu lado senta essa romena muito bonita e simpática. Como se pudesse existir alguma romena que não fosse desse jeito...! Na verdade a coitada não falava muito inglês, mas ela era formada em enfermagem e trabalhava com fast food!

Bom o avião partiu, ao clarear o dia, e eu começava a minha jornada... NO CAMINHO CONTRÁRIO AO QUE TINHA PERCORRIDO! Isso foi um vislumbre que eu tive, estava refazendo toda minha rota pelo alto! E mais, se eu não tivesse perdido o primeiro avião, provavelmente teria feito essa rota toda à noite e não aproveitado nada. É, eu consigo na apelação achar um motivo bom pras coisas! E lá ia eu sobrevoando Salzbourgo, conversando com minha nova amiguinha romena. O avião deveria fazer uma escala em Munique antes de seguir para Atenas.

Mas chegando lá, eu a amiga romena (da qual eu não me lembro o nome... sinto muito né?) Passamos por maus bocados pela enorme distância da plataforma G41 de onde nós descemos... Sim, o aeroporto é tão grande, que passa por todas essas letras do alfabeto e todos esses números! E ainda tivemos que mostrar passaporte para carimbar... Enfim, embarquei no vôo para Atenas cheio de excitação no coração, afinal estava seguindo para aquela terra da qual ouvia sempre falar, desde pequeno, desde quando eu estava em minha outra vida... Outra esta que antecedeu pelo menos umas 10 outras...!

E sentei do lado de um casal de gregos, enquanto os engraçados dos alemães anunciavam pelo rádio: "Ahh, senhores passageiros, sentimos muito mas um de nossos passageiros bebeu além da conta e perdeu sua bagagem... Logo que a encontrarmos daremos início ao nosso vôo" Isso é coisa que se diga? MUITO ESCROTO! Comecei a gostar mais do povo alemão depois dessa. O marido do casal era um cara muito interessante, com pinta de escritor grego. Era um médico de suporte a vida com trauma avançado, especialista em acidentes de carro. E professor da universidade de Patras. Ele me contava como 33% de todas as mortes do mundo são causadas por automóveis... como na alemanha se dirige muito rápido... como eles complicam o trabalho dele! E eu o perguntei, é claro, como era estudar matemática em grego! "Com todas as variáveis, é claro!" sempre quis fazer essa pergunta...! Mulher muito simpática também, ofereceu telefone, endereço e todas essas coisas que essa gente do leste europeu oferece com todo carinho para qualquer estrangeiro com o qual eles se afeiçoem! Pois eu ficava debruçado na janela, esperando o continente helênico chegar. Como será que era? Como eu me sentiria? Estava praticamente em êxtase, e o casal ria da minha cara. John, o marido lia seu livro em grego. E o mar adriático se acabava ao início do mar jônico, brilhando sendo todos do mediterrâneo. Um pequeno barquinho solitário navegava embaixo no meio da vastidão azul, e eu finalmente avistava ela, a cidade da deusa, berço de tudo que é berço origem de tudo. A paisagem pelo olhar, realmente tem a cara e parecia ter sido trabalhada por humanos durante milênios! A terra seca, arbustiva, gasta, ordenada, como se o sertão tivesse sido desbotado e respingado de oliveiras. Sim, elas estão por toda a parte. O lugar era a Grécia sem a menor sombra de dúvidas! E eu tinha chegado no aeroporto, ainda respirando aos jogos Olímpicos.
Peguei minha cruz, e me despedi do casal grego. Segui direto para as informações, e vi que poderia pegar o trem para istambul de 7 horas na Tessalônica, e teria que chegar lá fácil, partindo de Atenas. Recebi um bocado de mapa de graça, e algumas dicas de como chegar na praça Syntagma, horários de barcos para Santorini e ver o museu de arqueologia! Oh yeah. Pegar o ônibus E95 pagando o ticket para o dia todo. É longe viu, até o centro de Atenas, e o trecho me lembrou às vezes a caxangá ou a avenida Recife... Pois fazia tempo que não estava em casa, obviamente! Assim até catei, quando cheguei na praça, um canto para deixar a cruz, mas vi que era mais prático carregá-la até o museu arqueológico. E tinha onde deixar lá.
Alguns museus da europa cobram caro, outros nào têm infra-estrutura, outros não tem desconto para estudantes, outros não tem muita coisa de interessante, e outros, pasmem, não deixam vc entrar e não deixa vc tirar fotos! (merda, ainda estava puto por não ver as obras de Gustav Klimt! Cheguei no dia fechado). O Museu Nacional de Arquologia de Atenas não tinha nenhum desses defeitos. Quando disse que era estudante... "Ah, toma o ingresso... entra de graça!" Po cara, vc não sabe o quanto me fez feliz esse desconto! E foi simplesmente impressionante o lugar. Começando com um hall sobre arte micênica, a própria máscara de Agamenon, toda de ouro. Espadas, colares, todos de fino detalhe, impressionantemente conservados para 3000 anos de idade. Os vasos começaram a aparecer sob a era geométrica, e de outro lado, paralelamente a arte cicládica (das ilhas cicládicas) com seus seres estilizados. A arte e civilização grega começou nas ilhas, e como sou biólogo, não pude deixar de associar com a honrosa teoria da biogeorafia de ilhas, onde a biodiversidade se torna maior de acordo com o tamanho das ilhas... Assim Creta ganhou o posto mais alto, e de maior "etnodiversidade"... Foi a base de toda a cultura helênica e consequentemente, da ocidental. Será que foi lá que surgiram os primeiros "Reis" propriamente ditos?
Enquanto passava de sala em sala podia observar como mudavam as esculturas, como ficavam mais aproximadas dos seres humanos. De outro lado, tinha um pedaço de cerâmica muito significativo, sendo o mais antigo com caracteres gregos "E o prêmio vai para..." tinha escrito. Provavelmente era uma competição de dança, dizia a legenda. Incrível como, de acordo com John Andropoulakis, o grego do avião, qualquer grego de hoje poderia teoricamente se comunicar com um grego da época de Homero na escrita. A língua falada provavelmente adquiriu uma pronúncia diferente, mas é impressionante saber que é uma das línguas mais longevivas da história. As estátuas por sua vez estavam se aprimorando, até que chegamos na era clássica de Péricles.
A perfeição era impressionate. A delicadeza fazia as estátuas parecerem terem sido feitas de isopor, eram deuses muito bem representados pela forma humana. Tinha umas lá muito clássicas, uma de Zeus posando e aquela do lançamento do disco, famosíssima tb. O incrível era que nós, vivos, nào poderíamos posar para foto. Nem posar!
Uma exposição temporária estava aberta aos visitantes, a AGON, o espírito dos jogos. Competir, na Grécia antiga significava basicamente lutar contra si mesmo para evolução própria. O ajuntamento de vários atletas durante os jogos somente serviria como exibição, e uma motivação extra, além de honrar aos próprios deuses.
Um dos pedaços mais incríveis de cerâmica que eu já vi na minha vida, foi aquele mais antigo que continha palavras em grego. Datava de mais de 2000 a.C. e trazia como inscrição algo do tipo "...por honra ao mérito neste concurso de dança". É meio aleatório ser este o tema das palavras gregas mais antigas que sobreviveram, ainda assim é curioso, uma coisa que certamente encheria a dançarina da minha irmã de orgulho...
Ainda na exposição AGON, me deparei com três estátuas de Hipólita, a rainha das amazonas ferida mortalmente por Aquiles na guerra de Tróia. Naqueles tempos, jogos olímpicos também incluíam disputas artísticas, como música, pintura, oratória e poesia. Neste caso, o tema teria sido dado para o concurso de melhor escultura. Ao contornar uma das estátuas percebi que a sua sombra projetava uma figura de desespero grotesco, que contrastava com a suavidade da dor da própria estátua. Era como se ela tivesse alma ou algo do tipo... Tirei uma das fotos mais peculiares da minha vida ali mesmo!
E tava na hora de sair, ao ser expulso pelo guarda no final da tarde. Para pegar minha mochilona, a velhinha simpática do guardador estava só me esperando. E os dedos róseos do crepúsculo grego enquanto eu descia pela estação de OMNIA em direção à estação Larissa, via norte, via Tessalônica, onde eu pegaria meu trem rumo à Ásia.
Depois de um sanduíche e de esperar um pouco, hora de entrar no trem das 21:00 para a Tessalônica, chegando às 2 e partindo às 7... 5 horas de espera....
Mas ao entrar no trem e me sentar, lugar aleatório, chega uma garota aleatória, tentando por uma mala no bagageiro, e eu para ajudá-la. Era simplesmente linda, com olhos cinzas de Laetitia Casta... Ah estas mulheres do mediterrâneo... qual foi a minha surpresa quando ela falou comigo, e em inglês, e a conversa rolou, e que ela falava francês tb, e que estudava direito ("PINIKO" em grego... :D), e que gostava de basquete... É, foi um papo muito legal, uma vista muito legal, e gente boa! Tanto que eu foi descer na cidade dela (calma! Pq o trem pra Istambul passa por lá também!).

E pegar o trem depois de 5 horas esperando... Às 11 da manhã....!!! Cidade de Komotini! Região da Trácia! Cara, incrível ler meu livro de mitos gregos e encontrar referências para o lugar onde eu estava. Onde nasceu o carneiro do velocino de ouro! Indescritível...

segunda-feira, novembro 08, 2004

Rodando a Rômenia (A Falta de Noção é uma Faca de dois Legumes)

...mas é sempre assim: chego em uma cidade, e vou diretamente para o albergue (quando eu acho ele né? Vide minhas incríveis aventuras em território italiano) deixo as minhas coisas, e passeio por uma dia. Ao chegar a noite, conheço alguma galera, e a partir de então, não estou mais sozinho pela duração de minha estadia. E isso é muito ruim! Não que eu seja anti-social, mas depois para se despedir da turma é muito chato. :P
Quando eu volto da minha trilha, estava lá Dave, o "amante de ovelhas" sentado no beliche e eu fiquei conversando besteira com ele. Fiz um amigo né, "mais um para se despedir com cara de choro" mas é claro que eu não pensei nisso, é o tipo de coisa que se escreve em blog. Ele era australiano, e me chamou para ir com a cabambada de australiano para jantar fora! E tome pé para chegar no restaurante! Alicia nos arrastou por uns 2 quilômetros dizendo que "já estamos chegando, falta pouco" o que deu a oportunidade para o brasileiro fazer as típicas "piadas de socialização"! O jantar estava muito bom, umas "postas" de porco fritas, e mais conversa na mesa, dessa vez com um autêntico Neo-Zelandês TIM (era mentira tinha outros estrangeiros no grupo) e um holandês, RUDD (tá vendo?). Rudd era economista e a gente conversou sobre a importância da holanda para "my region". Engraçado como eu sempre me referia à Pernambuco como "my region" e não dizia "in Brazil.." talvez não quisesse desencadear o velho esteriótipo de carnaval, mas sempre me encontrava falando da festa de momo quando comentava sem parar que o carnaval de "my region" era o melhor, sem dúvida, da velha Pindorama "the land of the parrots" (estrangeiro adora escutar minhas besteiras!). "Veja só Rudd, na cidade que eu moro, na "my region", depois que os holandeses foram expulsos, o mesmo barco que os levou embora foi atracar em Manhattan e eles fundaram a cidade de Nova Iorque". Vocês não imaginam a dificuldade que é contar essa história e ter algum crédito... as pessoas olham com aquela cara de "pobre rapaz do terceiro mundo... querendo algum pingo de auto-estima para sua terra infestada de macacos comedores de gente...".
Eu tinha marcado com Tim pra ir fazer uma trilha fuderosa no dia seguinte! Existem duas cidades no sul da transilvânia, Sinaia e Busteni, que são relativamente perto uma da outra. O trajeto que é feito geralmente é de uma cidade para a outra, dormindo no meio do caminho em uma cabana. Sinistro hein? Em se tratando da TRANSILVÂNIA... Só que como eu disse anteriormente... é só o cenário, e o ambiente é altamente acolhedor. Vai ver Drácula não era tão mal assim afinal... (não, ele era sim!). No entanto ao raiar o dia, estava nublado e frio, e como Tim disse não ia rolar a "grande trilha". Ele tem uma cara interessante, parece aqueles navegadores de competição de vela neo-zelandês, um naturalista ou tal, é super gente boa. Mas então decidi tirar o dia para relaxar, coisa que não fazia desde antes das últimas provas de ambientais... desde antes de torcer o tornozelo... é, fazia tempo! Alicia e seu irmão foram visitar Sighisoara durante o dia, e eu fui ver internet com Dane, outro australiano muito engraçado, Tim também foi com a gente. Ah, e eu nem contei que PHILLIP e EVE estavam lá no albergue "Elvis Villa", se tornando as pessoas que eu mais vi durante toda minha viagem. O albergue era muito interessante. Mensagens taoistas por todo lado, atendentes lindíssimas, e uma infraestrutura ideal para mochileiros. Eu ali era "o" experiente, então me encaixava como uma luva ao que era oferecido. Fazia comida na cozinha, via televisão (MTV-Romênia), e conversava com todos os funcionários. Cada quarto tinha um nome, eu estava no "Ageeth's room", primeiro andar, a cozinha ficava logo em frente, e ela tinha uma varandinha com uma vista fuderosa. No térreo, a sala de televisão e a recepção, e obviamente o caminho para descer para o porão, onde montávamos as festas de fim de noite. Cada noite que ficávamos lá, recebíamos um vale para uma hora de internet grátis, e outro para uma bebida grátis. Eu me sentia de férias ali!
No final da noite, fomos jogar cartas. Rudd trouxe da holanda um joguinho muito interessante, que a tradução para inglês era "Cow Trade" (comércio de vacas). O jogo era basicamente composto de cartas de animais com o valor de cada animal específico e outras cartas servindo de dinheiro. Tudo funcionava como uma bolsa de valores onde os animais eram negociados, com base em vendas legais ou blefes. Em suma, foi muita diversão.
Após o jogo, iniciado pela discussão do amigo finlandês-ex-oficial-do-exército, que contava sobre a história da Finlândia (país com grande índice de suicídio - boa parte do ano com escuridão total), juntamos eu, um americano (Aadam), um holandês (Rudd), um australiano (Dave), e um Israelense (Itay) para avaliarmos a saúde mundial através de todas essas perspectivas... Momentos especiais:
Rudd: "A Europa se uniu para promover a paz"
Aadam: "É não rapaz!"

Pois a coisa só acabou tarde da noite. Dia seguinte... tchan tchan... castelo de drácula! E mais outros. O bom foi a turma todinha indo! Tirei altas fotos malucas com Dave e deu pra fazer uma pequena trilha, até o alto do segundo castelo do dia. E nas cidades pequenas, eu era a atração principal com a minha touca! Po, nunca viu um brasileiro com chapéu peruano não? Conosco estava um sósia de Ben Stiller!

Como todos iam embora, foi a grande festa de despedida de noite. Eu, Alicia, o irmão dela (esqueci o nome do cara, pode?) e Tim fomos no supermercado romeno comprar ingredientes para o spaghetti à berinjela de Alicia, que estava treinando para ser uma autêntica italiana... ao entrar no supermercado, tive a visão pelo túnel do tempo! Aquele espaço enorme e vazio... Era comunista! Ainda bem que tinha a select. O capitalismo triunfa novamente (quem diga a McDonalds fiorentina).

E bem que nós comemos o macarrão de berinjela de Alicia, que estava muito bom, mas também apareceu Miko, uma japonesa casa com um australiano, Steve, que preparou uma sopa muito louca, a qual ela tinha posto sal, e mais umas linguiças salgadas, que tornou o prato um mar morto, apesar de estar muito gostoso. A graça era oferecer a sopa à galera dizendo que era prato típico japonês! Eu com minha gula comi todas as linguiças, aguentando o sal. Quem sabia quando eu iria comer novamente?
E a despedida rolou lá no porão, festa total regada à cerveja URSUS. Bons tempos em Brasov...

No dia seguinte, estava eu me despedindo de todos. Peguei um taxi e fui-me para a estação de trem, esperando pelo trenzão para Bucareste, onde iria pegar meu avião para Atenas. Fiquei até uma hora na internet para esperar... Quando entrei no trem, tudo certo. Algumas coisas acontecem comigo por sorte, ou eu não sei. Um casal começou a conversar comigo em francês... quem diria que esta língua me salvaria um dia? Eles me perguntaram praonde eu ia... Bucareste! disse eu. "Não, AGORA, vc vai praonde?"... Bem, ficou na cara... tinha pego o trem errado, completamente na direção errada. Depois de meditar um pouco, descobri que perderia meu avião. As coisas só não pioraram em estresse pela incrível bondade do povo romeno. Uma mulher que estava na mesma cabine me levou no trem de volta, só para me deixar, e uma outra ficou tomando conta de mim... Incrível, perdido no leste europeu com avião indo para a Grécia sem mim e eu completamente tranquilo e calmo, por ter sido tão bem tratado. É uma pena que não falavam inglês, porque eu teria agradecido de todas as formas possíveis...
Pois eu voltei para Brasov e peguei um intercity, que seriamente foi o trem mais moderno que eu viajei em toda minha rota pela zoropa. Apesar de, na Romênia, os outros trens serem daqueles bem de transportar bicho mesmo (as cabines eram tão boas quanto a de outros trens, no entanto).
E ao chegar em Bucareste de 20:30, fui direto para o aeroporto, pegando metrô e busão, sendo que dormi no aeroporto... esperando o estande da Lufthansa abrir para eu tentar me encaixar no vôo das 7 para munique, e consequentemente de lá para Atenas...
A noite foi bem curta, vendo e revendo um vídeo promocional turístico sobre a Romênia (muito legal!)...
E ainda tive que pagar 40 euros para remarcar o vôo. Só com traveller's checks, fui ter que trocá-los na parte doméstica do aeroporto, do outro lado da rua. Me disseram que tinha um canto aberto de 6 da manhã... mas no local me disseram que tava fechado... tive que acordar a moça para poder trocar o check, senão não viajava! O que aconteceria se eu não conseguisse arrumar o dinheiro da remarcação???

O dia amanhecia, e eu... sentia uma dor no peito ao deixar a Romênia... foi realmente o único lugar que eu senti saudades mesmo de deixar, e olhe que eu estava indo para a Grécia. A beleza do local, a história e a bondade das pessoas me cativaram profundamente.

A Romênia é um lugar fantástico. Sem dúvida voltarei lá um dia!