Sobre a variedade de pensamentos que nascem do mundo físico e entram no fantástico através do meu olhar no leste europeu!

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Local: Recife, Manguetown, Pernambuco, Brazil

terça-feira, abril 19, 2005

Istambulindo na Aya Sófia. "Santa Sabedoria, Batman!" Disse o César ao Sultão.

Raia, sol do leste!
Porque veio mais um pra conquistar essa terra de altas muralhas onde cantam os árabes.
E pra tomar café no alto do albergue, cubos de açúcar! Fazia tempo que eu não via destes. Ares quase marítimos do estreito que separa a europa da Ásia. Nem acreditava que tinha realmente conseguido chegar até ali. Foi uma luta pessoal, realmente, um mês inteiro tentando, e finalmente estava lá, no ponto mais oriental que eu já fui, na Roma do leste. Cada um para seu lado, e lá vou eu passear logo por onde eu mais queria ir nessa cidade incrível: O templo da Hagia Sofia.
E chego eu perto de um monte de ônibus de turismo e véi. Paguei a entrada mais cara de um museu na minha vida, mas lá fui eu! Essa construçãozinha, que já foi igreja, sinagoga, mesquita, e agora é um museu, foi construída com um problema arquitetônico nas costas: Um domo sobre uma base quadrada. Mas Constantino pediu, então... :P Chamaram os mais sábios ilhéus gregos e eles colocaram o "duomo" em arcos sucessivos. Dizem que a igreja é indestrutível, após vários terremotos em que ela bravamente sobreviveu, em parte também graças à adição de vários minaretes de apoio após a queda de "Constatinopla". O interior é impressionante, mesmo em reforma. O domo parece flutuar embaixo de uma camada de luz. Existe inúmeras referências a todas as religiões que tiveram o lugar como sede, até pichações vikings se encontram por lá. Um círculo metálico existe, onde pessoas giram o polegar e fazem um pedido. A subida para o segundo andar é feita por um corredor estreito muito antigo, e impressionantemente não cansa.
Saindo de lá, tentei visitar o palácio do Sultão, o Topkapi, mas o preço era abusivo demais. Fui então para o "grande bazaar" fazer compras, onde vi a real graça daquele lugar, os vendedores árabes são os mais divertidos! pechinchar é uma arte das mais interessantes! principalmente quando vc consegue baixar 5x o preço do produto (comprei uma camisa por 5 milhões de liras turcas, que me ofereceram por 20.) Na verdade dei 5.500 por que o cara era gente fina. É a forma mais divertida de comprar, acredite em mim. Assim acabei gastando um bocado!
Pois é, cheguei a tempo de jantar com a galera, Ramadã né, o sol desceu e a gente começou a comer. Tinha umas alemãs gatas por lá!
Mas obviamente não comemos elas (óbvio por quê? Santa Sabedoria! Hagia Sofia, Amigo, Haja Coração!) Neh dessa vez naum, falei das alemãs graças a um lance engraçado - Elas ficaram iradas graças ao comportamento supostamente machista do garçom, que serviu a sopa pros homens primeiro! Pra uma delas não chorar, dei a minha. A essa altura já tinha conhecido o pai e filho americanos que se tornariam muito meus amigos nas aventuras árabes - Louis (o pai) e Dante (o filho). Dante tava até afim de uma das alemãs ali, mas eu acho que era só gréia... como era minha louca paixão pela grega de dois posts anteriores, apesar deu ter ligado pra ela e comprado um par de sapatos turcos... besteira! :P Mas foi ali que eu conheci Bob pai e Bob filho. O pai foi morar uns tempos em Istambul para ensinar inglês, para ter uma experiência em outro país, e o filho estava fazendo intercâmbio na Alemanha, e veio visitar. Bom...
Outro lance engraçado foi que eu entreguei uma nota de 5.000.000 de liras turcas achando que era uma de 50.000.000 de liras turcas! (e ainda peguei o troco da galera!). Queimo os brasileiros sempre...!
No dia seguinte, me apareceu na cara uma oportunidade de ouro! Quando chego no teto do albergue pra tomar café, Louis me chama para passear com os alunos turcos dele! Oportunidades de ouro caem no colo se você sabe fazer amigos...

E adentrando num Doblô (eu acho que era), fomos nós passear pelas ruas de Istambul.

Enquanto ISHAN nos contava histórias e mais histórias sobre os milênios de ocupação da segunda Roma, eu perturbava (como sempre)
Um dos doidos lá tinha um dente de ouro, quis obviamente dar uma de turco e penchinchei pra comprar dele (quase consigo!).

Entramos em um bocado de Mesquitas. Interessante notar que, a imponência e integridade da estrutura eram preocupacões constantes dos arquitetos reais do Sultão. Desde que o Monsieur Ahmet (SultanAhmet) adentrou na Santa Sofia e exclamou "Virge Maria da Santíssima Trindade de ALLAH!" jogando um punhado de terra na própria cabeça em sinal de rebaixamento frente a uma obra tão suntuosa, todas as mesquitas (do mundo, eu diria) seguem mais ou menos esse modelo. O domo obviamente redondo com suas janelas de sustentação em cima de uma base quadrada. A mesquita Azul (blue mosque) é maior do que a Hagia Sofia e foi construida logo na frente (para fazer "frente"). Os "minaretes" (colunas de chamar para oração) serviam também para contrabalancear o peso da estrutura, funcionam como gigantes fundações externas. Pequenas colunas na parede interna da mesquita rotacionam, indicando as menores forças de estresse na estrutura, indicando a necessidade de intervenções. Coisas de 1500-1600. A parte interna vcs todos conhecem... separação mulher-homem, cânticos diversos, tirar sapato para entrar (dessa eu me cansei bastante!), fontes d'água para lavar mãos e pés para se purificar antes de entrar no templo... os árabes são realmente muito limpos (coitado de mim, Miles mandava eu deixar os meus sapatos de trilha lindos do lado de fora do quarto todo dia pq eles fediam tanto!). Um dos pontos altos do dia foi a ida a uma antiga igreja da época de constantino... tinham transformado ela em mesquita, como tantas outras, mas esta estava fechada para visitação. Como um de nossos colegas estudava história da arte pode trazer a gente pra dentro. Quando lá, para minha surpresa nosso anfitrião lavanta o tapete e o piso de madeira do templo muçulmano e para nosso espanto, um mosaico enorme da vida de Cristo embaixo do piso.
Continuamos indo para vários túmulos de Sultões. Lugares de reza extremamente visitados ainda, enormes caixões com um turbante em cima.
(E nada de comer o dia todo!!! Ahh!!! RAMADAN!)
Em seguida visitamos os muros da cidade. impressionantes pelo seu tamanho, muitos locais se tem que escalar, mas a vista não tem igual. Embaixo de uma muralha, catacumbas onde o Sultão lançava seus prisioneiros!!! Cara, nunca me senti tanto o personagem de PRINCE OF PERSIA. A semelhança é realmente gritante.
Depois, rodando pelo bairro muçulmano da cidade, Ishan me advertiu que dar tchauzinho para as mulheres ali era o mesmo que pedir em casamento (eu parei né!). E quando deu a hora mágica: "quando batem as seis horas/de joelhos sobre o chão/o muçulmano reza/e come café, e kebab com pão" De fato, fomos comer como o resto da cidade, e meu papai americano me pagou os baklavas, kebabs, e outras comidas das mais gostosas possíveis.

Quando fui na cidade constantina
Fui tratado como um Sultão
Café na cobertura
Olhando pro estreito do chifrão
Delícia turca maravilha
E pistache de graça
Me deram kebab para provar
eu provei
Suco de granada com laranja pra tomar
eu tomei
chá de maça pra beber
Ah minino como eu gostei!


E a triste despedida da noite, pq eu iria para a Grécia no dia seguinte! Quel dommage! Bem, a viagem não pode parar.

domingo, abril 03, 2005

Allah colocou a mão. ISTAMBUL, Enter the Desert Sandman!

E raia o dia na Trácia!!!
O sol de Apolo surge no horizonte carregado pelos cavalos que respiram fogo. Perseu se casando com Andrômeda, esfinges ao redor me tentando, para que eu finalmente descobrisse alguma coisa sobre aquelas letrinhas gregas. Era a terra do fantástico, dos mitos quase inacreditáveis. E eu, tudo isso acreditava. Só que, obviamente não me dava conta que finalmente conseguira entrar na rota para finalmente chegar à cidade prometida de Istambul. Aqueles trilhos obviamente teriam sido percorridos pelos famosos vagões do Expresso do Oriente, eu estava perto!
Precisamente às 11 horas chega o trenzão, um dos muitos que eu percorreria neste dia, Afinal, são 24 horas de Atenas a Istambul, por esse esquema que eu segui.
Um breve P.S. para navegantes de primeira (ou muita) viagem: Antes de viajar estava eu procurando saber sobre vistos para a Turquia. O cara da embaixada, me tratando muito bem chegou dizendo que os vistos eram adquiridos In Loco, ou seja, ou eu desembarcava no local, ou voando, ou de trem, eu comprava por lá. É uma prática rara, mas ainda assim ocorre. Minha preocupação passou a ser portanto como chegar lá na Turquia, afinal, no meio do caminho tinha um país de língua cirílica, tinha um país de língua cirílica no meio do caminho - a BULGÁRIA. Ah vistos condenados! Ah que eu tinha que arrumar um visto de trânsito, pq não ia dar tempo de conhecer o lindo país (é eu queria visitar essa gota.). Turma, eu tentei até chegar lá de navio pelo mar negro, pense que seria "a" viagem. Lavando porão por causa do liseu. Mas o serviço de ferry Constanta (Terra de ovídio, autor do "Arte de Amar"), Romênia, para Istambul, Turquia estava desativado. Então era o jeito partir para um trecho de avião que minha querida mãe foi obrigada a escolher. Mas eu queria ir de trem. Em busca de um visto para a Bulgária, descobri, ó, que brasileiro não precisa de visto para entrar na Turquia! (que coisa!) Ao contrário de americanos, australianos, povos que normalmente não pegam visto nem em país comunista hoje em dia. Achei legal. Isso obviamente eu sentiria na pele ao chegar na fronteira. Gostaram do "breve" P.S.??? hahahah!).
Pois é. Eu apenas com traveller's checks (tinha gasto tudo tomando uma cerva com a grega no vagão), fazendo o trajeto até a fronteira, na cidade grega de PÍTION (a cobra do início dos tempos, morta por Apollo). Eu desço para esperar o próximo trem da jornada e acabo conhecendo Nick e Miles. Nick (que é da Cingapura) tinha uns 35 anos mas nem parecia, estava rodando o leste europeu, conhecendo as várias "fácies" dos povos locais. Se sentiu especialmente tocado pela hospitalidade do povo local da bósnia, que abrigam em suas próprias casas os viajantes (claro que não de graça né?!). Miles é astrofísico e estava escrevendo um livro sobre biologia, genes e universo. Ficou especialmente interessado que eu fazia ciencias ambientais! Tanto como eu pela área dele. Aquela pausa no meio do nada, que me fez sentir um exilado de filme (muito legal!) também serviria para análise de passaportes. Meu visto, obviamente era a minha nacionalidade. Mas e será que os guardas sabiam? Era esperar para ver. Eu estava sem dinheiro em espécie, de toda forma seria mandado de volta... a não ser que meus novos amigos me dessem um trocado! :P
Mas não foi preciso. Ficamos em o que pela classificação dos trens era a mais luxuosa das cabines, apesar do trem ser rabugento, era uma COUCHETTE, com lugar para dormir (teríamos ainda umas boas 6 horas de viagem pela frente). Mas nem foi preciso cair no ronco, por causa da conversa tão interessante.
Nos nossos aposentos bem merecidos para uma entrada triunfal em Instambul (e que entrada!) totalmente ao estilo do "Expresso do Oriente" trocávamos experiências. As conversas variavam de, cosmologia, origem da vida, múltiplos universos, funcionamento do DNA, e experiências nos diversos países dos bálcãs, contados por NICK, o rapaz que relatou momentos felizes ao lado de uma família serva. Já Miles me contou que os universos expandiam e contraiam como bolhas, e apenas os que tivessem variáveis "plausíveis" se manteriam por um tempo mais prolongado.
Enquanto o bate-papo se extendia, a noite adentrava, e nós, cada vez mais num dos territórios mais catucados por homens na história mundial. O trem finalmente entrou em uma cidade que não parecia ter fim. Neste momento, como se fôssemos celebridades, fogos de artifício irromperam nos céus por onde passavam minaretes e muros pela janela do trem. Era o primeiro dia do Ramadã, num momento que seria conhecido como uma das maiores coincidências da minha vida (não disse que seria uma entrada triunfal?).
Felizes e famintos pra caramba, saímos do trem estacionado às 21:00 na estação Sirkeci. Nos meus bolsos, só tinha traveller's cheques, estando sem um mísero centavo de euro no bolso, muito menos LIRAS TURCAS, procurei uma casa de câmbio, sem sucesso, àquela hora da noite. Olhei na saída da estação, um caixa automático 24 horas. Meus dois colegas iriam tirar dinheiro ali. Eu, olhei para o meu velho cartão OUROCARD, BANCO DO BRASIL e pensei, "ah, não custa nada tentar". Ao inserir o cartão, muitas palavras estranhas e uma opção compreensível "English". Ao se tornar tudo claro, mandei sacar do "cartão de crédito" e apareceram algumas opções, igualmente estranhas: "10 milhões de liras turcas", "20 milhões de liras turcas", "30 milhões de liras turcas", "50 milhões de liras turcas". Soube logo que não seria excomungado do banco por tirar muito dinheiro, mas os colegas não sabiam quanto aquele dinheiro significava. Resolvi tirar "20 milhões", e pelo menos deu pra pegar o bonde (por sinal o mais moderno que eu andei em toda a minha viagem) em direção ao centro histórico onde se encontravam todos os albergues.
Ficamos rodando um pouco perdidos, eu, Nick e Miles, no meio de muita gente nas ruas durante o Ramadã, mas logo encontramos algumas ruas que davam para um amontodado de albergues. Agora, eu queria ir para o que eu tinha reservado, mas não fazia questão de ir para outro, afinal, estávamos cansados e com fome. No entanto, enchi um pouco o saco dos caras, que ao virem primeiro os outros mais TCHANS quase desistem de procurar mais. O que provou ser bastante proveitoso! O BAUHAUS era simplesmente fenomenal, pelo menos em termo de estética e atendimento, e tinha um lounge fantástico no topo ao ar livre de onde se podia ter uma vista panorâmica do estreito de Bósforo... a amiguinha Bia tinha me dado a dica legal.
Os caras gostaram (depois me agradeceram) e deixamos as bolsas por lá, correndo para um restaurante, coisa barata, era Turquia, e vi logo que iria comer muito bem por ali! Primeiro chá de maçã, como vou esquecer? Simpatizei com o garçon, com o qual perturbei com a cara, comi um Kebab com pão do bom, depois fomos dormir, à luz da lua crescente e ao som das rezas do Ramadã...