Sobre a variedade de pensamentos que nascem do mundo físico e entram no fantástico através do meu olhar no leste europeu!

Nome:
Local: Recife, Manguetown, Pernambuco, Brazil

segunda-feira, novembro 08, 2004

Rodando a Rômenia (A Falta de Noção é uma Faca de dois Legumes)

...mas é sempre assim: chego em uma cidade, e vou diretamente para o albergue (quando eu acho ele né? Vide minhas incríveis aventuras em território italiano) deixo as minhas coisas, e passeio por uma dia. Ao chegar a noite, conheço alguma galera, e a partir de então, não estou mais sozinho pela duração de minha estadia. E isso é muito ruim! Não que eu seja anti-social, mas depois para se despedir da turma é muito chato. :P
Quando eu volto da minha trilha, estava lá Dave, o "amante de ovelhas" sentado no beliche e eu fiquei conversando besteira com ele. Fiz um amigo né, "mais um para se despedir com cara de choro" mas é claro que eu não pensei nisso, é o tipo de coisa que se escreve em blog. Ele era australiano, e me chamou para ir com a cabambada de australiano para jantar fora! E tome pé para chegar no restaurante! Alicia nos arrastou por uns 2 quilômetros dizendo que "já estamos chegando, falta pouco" o que deu a oportunidade para o brasileiro fazer as típicas "piadas de socialização"! O jantar estava muito bom, umas "postas" de porco fritas, e mais conversa na mesa, dessa vez com um autêntico Neo-Zelandês TIM (era mentira tinha outros estrangeiros no grupo) e um holandês, RUDD (tá vendo?). Rudd era economista e a gente conversou sobre a importância da holanda para "my region". Engraçado como eu sempre me referia à Pernambuco como "my region" e não dizia "in Brazil.." talvez não quisesse desencadear o velho esteriótipo de carnaval, mas sempre me encontrava falando da festa de momo quando comentava sem parar que o carnaval de "my region" era o melhor, sem dúvida, da velha Pindorama "the land of the parrots" (estrangeiro adora escutar minhas besteiras!). "Veja só Rudd, na cidade que eu moro, na "my region", depois que os holandeses foram expulsos, o mesmo barco que os levou embora foi atracar em Manhattan e eles fundaram a cidade de Nova Iorque". Vocês não imaginam a dificuldade que é contar essa história e ter algum crédito... as pessoas olham com aquela cara de "pobre rapaz do terceiro mundo... querendo algum pingo de auto-estima para sua terra infestada de macacos comedores de gente...".
Eu tinha marcado com Tim pra ir fazer uma trilha fuderosa no dia seguinte! Existem duas cidades no sul da transilvânia, Sinaia e Busteni, que são relativamente perto uma da outra. O trajeto que é feito geralmente é de uma cidade para a outra, dormindo no meio do caminho em uma cabana. Sinistro hein? Em se tratando da TRANSILVÂNIA... Só que como eu disse anteriormente... é só o cenário, e o ambiente é altamente acolhedor. Vai ver Drácula não era tão mal assim afinal... (não, ele era sim!). No entanto ao raiar o dia, estava nublado e frio, e como Tim disse não ia rolar a "grande trilha". Ele tem uma cara interessante, parece aqueles navegadores de competição de vela neo-zelandês, um naturalista ou tal, é super gente boa. Mas então decidi tirar o dia para relaxar, coisa que não fazia desde antes das últimas provas de ambientais... desde antes de torcer o tornozelo... é, fazia tempo! Alicia e seu irmão foram visitar Sighisoara durante o dia, e eu fui ver internet com Dane, outro australiano muito engraçado, Tim também foi com a gente. Ah, e eu nem contei que PHILLIP e EVE estavam lá no albergue "Elvis Villa", se tornando as pessoas que eu mais vi durante toda minha viagem. O albergue era muito interessante. Mensagens taoistas por todo lado, atendentes lindíssimas, e uma infraestrutura ideal para mochileiros. Eu ali era "o" experiente, então me encaixava como uma luva ao que era oferecido. Fazia comida na cozinha, via televisão (MTV-Romênia), e conversava com todos os funcionários. Cada quarto tinha um nome, eu estava no "Ageeth's room", primeiro andar, a cozinha ficava logo em frente, e ela tinha uma varandinha com uma vista fuderosa. No térreo, a sala de televisão e a recepção, e obviamente o caminho para descer para o porão, onde montávamos as festas de fim de noite. Cada noite que ficávamos lá, recebíamos um vale para uma hora de internet grátis, e outro para uma bebida grátis. Eu me sentia de férias ali!
No final da noite, fomos jogar cartas. Rudd trouxe da holanda um joguinho muito interessante, que a tradução para inglês era "Cow Trade" (comércio de vacas). O jogo era basicamente composto de cartas de animais com o valor de cada animal específico e outras cartas servindo de dinheiro. Tudo funcionava como uma bolsa de valores onde os animais eram negociados, com base em vendas legais ou blefes. Em suma, foi muita diversão.
Após o jogo, iniciado pela discussão do amigo finlandês-ex-oficial-do-exército, que contava sobre a história da Finlândia (país com grande índice de suicídio - boa parte do ano com escuridão total), juntamos eu, um americano (Aadam), um holandês (Rudd), um australiano (Dave), e um Israelense (Itay) para avaliarmos a saúde mundial através de todas essas perspectivas... Momentos especiais:
Rudd: "A Europa se uniu para promover a paz"
Aadam: "É não rapaz!"

Pois a coisa só acabou tarde da noite. Dia seguinte... tchan tchan... castelo de drácula! E mais outros. O bom foi a turma todinha indo! Tirei altas fotos malucas com Dave e deu pra fazer uma pequena trilha, até o alto do segundo castelo do dia. E nas cidades pequenas, eu era a atração principal com a minha touca! Po, nunca viu um brasileiro com chapéu peruano não? Conosco estava um sósia de Ben Stiller!

Como todos iam embora, foi a grande festa de despedida de noite. Eu, Alicia, o irmão dela (esqueci o nome do cara, pode?) e Tim fomos no supermercado romeno comprar ingredientes para o spaghetti à berinjela de Alicia, que estava treinando para ser uma autêntica italiana... ao entrar no supermercado, tive a visão pelo túnel do tempo! Aquele espaço enorme e vazio... Era comunista! Ainda bem que tinha a select. O capitalismo triunfa novamente (quem diga a McDonalds fiorentina).

E bem que nós comemos o macarrão de berinjela de Alicia, que estava muito bom, mas também apareceu Miko, uma japonesa casa com um australiano, Steve, que preparou uma sopa muito louca, a qual ela tinha posto sal, e mais umas linguiças salgadas, que tornou o prato um mar morto, apesar de estar muito gostoso. A graça era oferecer a sopa à galera dizendo que era prato típico japonês! Eu com minha gula comi todas as linguiças, aguentando o sal. Quem sabia quando eu iria comer novamente?
E a despedida rolou lá no porão, festa total regada à cerveja URSUS. Bons tempos em Brasov...

No dia seguinte, estava eu me despedindo de todos. Peguei um taxi e fui-me para a estação de trem, esperando pelo trenzão para Bucareste, onde iria pegar meu avião para Atenas. Fiquei até uma hora na internet para esperar... Quando entrei no trem, tudo certo. Algumas coisas acontecem comigo por sorte, ou eu não sei. Um casal começou a conversar comigo em francês... quem diria que esta língua me salvaria um dia? Eles me perguntaram praonde eu ia... Bucareste! disse eu. "Não, AGORA, vc vai praonde?"... Bem, ficou na cara... tinha pego o trem errado, completamente na direção errada. Depois de meditar um pouco, descobri que perderia meu avião. As coisas só não pioraram em estresse pela incrível bondade do povo romeno. Uma mulher que estava na mesma cabine me levou no trem de volta, só para me deixar, e uma outra ficou tomando conta de mim... Incrível, perdido no leste europeu com avião indo para a Grécia sem mim e eu completamente tranquilo e calmo, por ter sido tão bem tratado. É uma pena que não falavam inglês, porque eu teria agradecido de todas as formas possíveis...
Pois eu voltei para Brasov e peguei um intercity, que seriamente foi o trem mais moderno que eu viajei em toda minha rota pela zoropa. Apesar de, na Romênia, os outros trens serem daqueles bem de transportar bicho mesmo (as cabines eram tão boas quanto a de outros trens, no entanto).
E ao chegar em Bucareste de 20:30, fui direto para o aeroporto, pegando metrô e busão, sendo que dormi no aeroporto... esperando o estande da Lufthansa abrir para eu tentar me encaixar no vôo das 7 para munique, e consequentemente de lá para Atenas...
A noite foi bem curta, vendo e revendo um vídeo promocional turístico sobre a Romênia (muito legal!)...
E ainda tive que pagar 40 euros para remarcar o vôo. Só com traveller's checks, fui ter que trocá-los na parte doméstica do aeroporto, do outro lado da rua. Me disseram que tinha um canto aberto de 6 da manhã... mas no local me disseram que tava fechado... tive que acordar a moça para poder trocar o check, senão não viajava! O que aconteceria se eu não conseguisse arrumar o dinheiro da remarcação???

O dia amanhecia, e eu... sentia uma dor no peito ao deixar a Romênia... foi realmente o único lugar que eu senti saudades mesmo de deixar, e olhe que eu estava indo para a Grécia. A beleza do local, a história e a bondade das pessoas me cativaram profundamente.

A Romênia é um lugar fantástico. Sem dúvida voltarei lá um dia!